I- Liturgia

05-01-2011 13:36

 (AUTOR DESCONHECIDO)

A LITURGIA

A liturgia é a ação do povo. Por isso ela pode ser usada no aspecto civil e religioso da realidade do povo, assim: liturgia no uso civil é serviço público, liturgia no uso religioso é serviço devido aos deuses.

A nossa pretensão é entender a liturgia no aspecto religioso. Assim podemos definir a liturgia como: o mistério do plano salvífico centrado na Páscoa de Jesus Cristo e perpetuado pela Igreja, na ação sagrada em que Cristo exerce seu sacerdócio e em que os sinais sensíveis realizam aquilo que significam. A liturgia aqui vai ser entendida como: o mistério celebrado pela pessoa humana e como encontro de pessoas reunidas com Deus.

Para entendermos melhor a liturgia de nossos dias é necessário olharmos para a história e ver como se foi formulando a liturgia sacramental que temos hoje.

No inicio a liturgia não tinha um lugar próprio para celebrar, celebrava-se nas casas dos que constituía a comunidade dos primeiros cristãos. Esta celebração não tinha um ritual pré-estabelecido, a liturgia acontecia a partir da refeição onde se recordava o gesto feito por Jesus na quinta feira Santa. Nessa época a fé era transmitida a partir da evangelização, olhando para os atos dos Apóstolos. Quando o neo-catecúmeno já possuía bagagem para dar testemunho do que ele apreendera, passava pelo rito de iniciação e começava a fazer parte da comunidade dos cristãos.

Com o passar do tempo vão surgindo lugares de culto chamados de “Igrejas Domésticas”, que eram casas destinadas para o culto. Mais tarde, começa-se a construir locais próprios para o culto, chamados Igreja, onde se passa a celebrar a refeição, isto é, a Eucaristia, que é o ponto de unidade da Igreja que esta surgindo.

No século IV o processo de aprendizagem vigente até então perde a sua eficácia, e inicia-se um novo método de transmissão da fé.

Pouco a pouco se desenvolve uma estrutura do ano litúrgico para a celebração da Eucaristia, tendo como pontos mais significativos: a Páscoa, quaresma, advento, etc.

Com a escolástica acontece uma reforma na liturgia, inicia-se o batismo de crianças. Iniciando assim, a educação da fé feita a partir das famílias. A pregação é de responsabilidade dos bispos e as ordens mendicantes assumem a pregação para o povo.

Esta forma de liturgia foi afirmada no Concílio de Trento e esteve em vigor até o Vaticano II, aonde vai acontecer uma reformulação da liturgia, porém até hoje ainda pode se encontrar resquícios desta liturgia pré Vaticano II. Mas essa reformulação não aconteceu de uma hora para a outra, mas foi um processo que inicia bem antes com o surgimento de focos de repudio as normas tridentinas. Assim temos a encíclica Mediator Dei de Pio XII de 1947 que se torna à carta magna da reforma da liturgia.

As conseqüências das reformas do Concílio do Vaticano II no Brasil podem ser verificadas através de dois momentos: o movimento Mariano, que era dirigida pelos

Jesuítas e com cunho todo espiritual; e o movimento da Ação Católica que tinha como responsáveis os Beneditinos e com caráter social, isto é, tentavam colocar a liturgia nas ações do povo.

Olhando para a história podemos ver que a liturgia foi se adaptando as novas realidades que a vida social lhe ia impondo, porém ela nunca perdeu seu sentido, que é de reunir o povo para se encontrar com Deus, para celebrarem juntos os fatos alegres e felizes, bem como dar sentido aos aspectos de dor e de sofrimento que o ser humano é convidado a se deparar a cada instante de sua vida.

Como a liturgia está intimamente ligada com o ser humano, vamos ver qual é o embasamento antropológico e teológico da Liturgia. Para podermos celebrar melhor o Mistério da Salvação, bem como dar sentido as limitações humanas.

Olhando para o ser humano podemos perceber que ele é um ser que celebra (festeja) os fatos que acontecem na sua vida. Por isso a festa está presente na vida do ser humano. Ela significa bom humor, nela se fala do lado lúdico da pessoa. A festa tem que estar ligada a práxis, caso contrário ela se torna alienação. Assim é a liturgia.

O ponto de partida para a práxis-festa é a vida cristã, enquanto vivida, falada que cria um dinamismo que nos leva a fazer a experiência de crer, este crer tem três regências: crer em Deus (adesão); creio Deus (crer na noticia dada sobre Deus); e, crer a Deus (aceitar dar testemunho à cerca desde Deus). Estas feições diferem dependendo da circunstância de vida (urbana, rural) ou de época. Assim podemos dizer que a práxis parte da vida cristã como seguimento de Jesus Cristo como adesão, conhecimento e testemunho, enquanto a festa é a feição epocal da fé atual.

A práxis como feição epocal da fé atual deve ser histórica, para suprir as necessidades da fé atual, portanto, deve ser libertadora e baseada no Senhor, caso contrário esta práxis não é cristã. Ela é vivida individualmente, mas sempre em comunidade, pois a comunidade é o lugar de alimentação da fé. É na comunidade que se pode verificar dois princípios básicos da práxis que são:a esperança e a experiência, onde a experiência é aquilo que nos empurra e a esperança é aquilo que nos puxa.

A festa tem um fato valorizado (Kairós), tem uma expressão significativa (Symbolon) e tem uma intercomunhão solidária (Koinonia). Vejamos cada um deles:

- Fato Valorizado = Kairós

A festa provoca um distanciamento do dia-a-dia, que ajuda a entender a realidade da pessoa no seu centro, na expressão de gratuidade e na expressão de historicidade. Porém, não há festa sem a práxis e não há práxis sem a festa. Por isso temos sempre motivos para festejar, como: vida, aniversário, vitória, um acontecimento na comunidade.

Por traz de cada sacramento existe um momento de festa que chamamos de kairós, assim podemos verificar os motivos de festa na liturgia. Por exemplo, no batismo vemos o nascimento, a inserção, a vida nova trazido por este sacramento. Tudo isso é motivo para festejar. Onde o mistério Pascal de Cristo é o Kairós de todos os Kairós.

- As expressões litúrgicas - os Sacramentos – precisam ser altamente significativas. Expressões que comunicam significados são: a comunicação, a narração e os símbolos. A comunicação pode ser verbal ou não verbal. A narração dá o sentido da festa, do acontecimento. Os símbolos remetem a autosignificação, no entanto há objetos que impedem o acesso ao símbolo, tais como o intelectualismo, o alegorismo, o positivismo, o dogmatismo.

Na liturgia sacramental existe uma série de expressões significativas. Algumas são mediadas por algo distinto do sujeito. Por exemplo: Água = Batismo; Óleo perfumado = Confirmação; Pão e Vinho = Eucaristia; Óleo medicinal = Unção dos enfermos. Outros por sua vez não necessitam de mediação. Por exemplo: Acolhida, diálogo = Penitência; imposição das mãos = Ordem; consentimento misto = Matrimônio.

Por fim nos resta falar da Koinonia (comunhão) que é feita e experimentada por quem faz a comunhão. Assim podemos dizer que quem faz a festa é o grupo, por isso ela se torna excludente, não é a festa que exclui, mas é a própria pessoa que se exclui. E por outro lado é a festa que faz o grupo, por isso, a festa tem caráter universalista, pois estende o convite a todos e acolhe a todos.

A liturgia é feita pela Igreja (comunidade) que está ligada pela comunhão (Koinonia).

A liturgia faz a Igreja, na medida que a liturgia se apresenta como aglutinadora de pessoas.

Podemos dizer então que a liturgia é a celebração dos fatos que acontecem na vida do ser humano dentro de um determinado lugar e de um determinado rito.A liturgia é festejar os fatos. Pois só se festeja quando se tem motivo para tanto. Por isso a liturgia é um verdadeiro festejar os fatos da vida, pois toda liturgia traz consigo um fato para ser festejado.

A liturgia de hoje deve ser feita para o homem de hoje. Todas as entidades nos nossos dias estão bem equipadas, e os seus agentes muito bem preparados. A Igreja não pode ficar atrás! Os seus agentes, e principalmente os agentes de Pastoral Litúrgica, devem, junto com o sacerdote, proporcionar um clima agradável e cativante. Por isso é muito importante a criatividade. Ser criativo não é mudar as coisas, mas revestí-las com novos jeitos, gestos e palavras.

O altar deve ser transformado numa fonte onde as pessoas deverão encontrar e sair saciadas. Por isso, a celebração não pode ser feita de padre e Equipe de Liturgia para o povo, mas de coração para coração. Daí a importância dos padres e agentes da Pastoral Litúrgica terem muito amor, formação e informação para que possam corresponder às exigências dos tempos modernos.

Apesar de muitos esforços, temos que considerar a falta de formação litúrgica do clero brasileiro e também das Equipes de Liturgia, se bem que, atualmente, há mais cursos de formação para os leigos que para os sacerdotes.

Estando por muitos lugares no Brasil realizando nossas pastorais, fui abordado por pessoas portadoras de muitas dúvidas que vinham de um motivo comum: falta de formação e dinâmica no exercício de cada função dos membros das Equipes de Liturgia. Por isso, fica muito a desejar o desempenho de cada um durante a celebração.

Esta apostila não fala apenas das funções de cada membro de Equipe, mas trata principalmente da Dinâmica destas funções com dicas e técnicas para aperfeiçoá-las em vista de um melhor desempenho litúrgico.

É bom lembrar que a liturgia, hoje, tem de ser um “fato” que desperte a todos. Tem de ser viva a tal ponto que as pessoas sejam reconduzidas ao fervor e ao êxtase. Cada palavra, oração, leitura e canto devem envolver como um abraço sonoro todas as pessoas presentes.

Já está na hora de fazermos uma Liturgia mais criativa e eloqüente junto às nossas comunidades.

Definição

“Λέιτουργήω” (Leitourgéo), verbo grego, significa exercer, à sua conta, certas funções públicas; servir. Assim, originalmente, “leitourgia” (leitourgía) significa função ou serviço público, ou simplesmente serviço. No Novo Testamento o verbo “λέιτουργήω, leitourgéo” adquire o sentido de servir ao Senhor, desempenhar funções sagradas, daí liturgia evolver para culto divino. Λευτοΰργόσ, Leitourgós (Leitourgo”) é a designação

que corresponde a quem exerce serviço público, em Roma é o litor; o vocábulo indica depois o ministro do culto, não perdendo o sentido original de servo, de quem presta um serviço da comunidade.

O Dicionário Aurélio registra:

“Liturgia [Do grego: λειτοΰργυα (leitourgía), 'função pública', pelo latim. eclesiástico medieval liturgia.] S. f. 1. O culto público e oficial instituído por uma igreja; ritual: a liturgia católica; a liturgia anglicana; “nos vastos pátios dos grandes conventos, então em toda a riqueza das suas alfaias, dos seus paramentos, dos seus azulejos, em toda a pompa da liturgia, o acampamento popular à espera da procissão”.

O termo liturgia quer dizer expressão de fé; fé como dom do Espírito Santo. É uma ação que se faz com o povo. E toda ação supõe serviço. E sendo liturgia o assunto central desse trabalho, em primeiro lugar creia que o Espírito Santo quer que você esteja a seu serviço na comunidade, na Igreja.

É Ele quem lhe dá o dom de rezar, o dom de cantar, de compor, de tocar algum instrumento, o dom de fazer uma leitura bem feita, de fazer reflexões sobre um tema da Bíblia ou sobre outros temas, o dom de arrumar o altar, de manter a casa de Deus limpa e arrumada, de lidar com o som, que é tão importante; o dom de receber os irmãos à porta do Templo, de receber bem os idosos, as crianças, de ser delicado para com as pessoas consideradas “inconvenientes”, pacientes para com os bêbados e outros que, às vezes, atrapalham as celebrações; o dom para lidar com a iluminação, para arrumar os folhetos da missa e dos cantos etc.

Caso você possua algum desses dons, ou mesmo outros não mencionados (o Espírito Santo é infinitamente criativo), e faz parte de uma equipe de liturgia, ou equipe de celebração, ou é responsável pelos serviços litúrgicos na sua comunidade religiosa, não tenha como imposição, obrigação e nem mesmo como alienação esse serviço prestado.

Deus não aceita nada que não seja feito com amor e alegria! Você foi escolhido para desempenhar essa função! Tenha sempre no seu coração e nos lábios a frase do salmo: “Sede bendito por me haverdes feito de forma tão maravilhosa” (Sl 138, 14). Não se esqueça nunca de que tudo o que você recebeu de Deus, a Ele deve ser devolvido, e os dons que Ele lhe concedeu não são propriedade sua, sendo que mais tarde Ele vai pedir contas de tudo o que você recebeu e, principalmente, o que você fez com o que ganhou (1Pd 4, 5).

Veja o quanto você pode ser útil aos irmãos, por mínimo que seja, servindo-os com dedicação, alegria e humildade. Afinal, o Senhor lhe concedeu os talentos (Mt 25, 15). O que você está fazendo com eles?

É sempre bom reforçar que os dons recebidos não lhe pertencem. Assim sendo, não queira assumir a postura de “dono” da liturgia. Ninguém é dono de ninguém, nem de coisa nenhuma! Somente a Deus cabe ser DONO de tudo e de todos! Então, não caia na tentação de fazer do horário que trabalha na celebração uma “hora em que você manda”. O pároco não necessita de párocos(as) a mais (nem o povo).

Ao contrário, faça do momento em que você está atuando um momento de intenso louvor e ação de graças a Deus e de serviço aos irmãos.

Saiba usar devidamente esse espaço que o Espírito Santo lhe concede; saiba usá-lo para a glória do Espírito Santo que o santifica e plenifica com os dons, e que o quer nesse serviço (Fl 2,1-5).

Liturgia da missa.

Culto público e oficial instituído pela Igreja Católica para a missa, cujo rito sofreu alterações a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), e que consta das seguintes partes: ritos iniciais (saudação, ato penitencial, Kyrie e Glória); liturgia da palavra (duas leituras do Antigo e do Novo Testamento, intercaladas por um Salmo, aleluia, Evangelho, homilia, credo ou Profissão de fé ou Credo); liturgia eucarística (oferendas, prefácio, Sanctus, Benedictus, cânon romano ou introdução à consagração); rito da comunhão (Pai-nosso, Agnus Dei, comunhão) e ritos finais (oração e bênção final).

A Liturgia se insere na Vida Cristã. Ela não é um mero modo de fazer determinadas coisas ou celebrações, ou simplesmente uma atividade a realizar na vida da Igreja, e sim um dos pontos fundamentais da vida da Comunidade Cristã.

A Liturgia é obra da Santíssima Trindade. O Pai é fonte e fim da Liturgia – afirmativa do Catecismo da Igreja Católica fundamentada no hino cristológico da Carta de S. Paulo aos Efésios: “Bendito seja Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele escolheu-nos antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito da sua vontade, para louvor e glória da sua graça, com a qual Ele nos agraciou no Bem-amado.”

Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é ao mesmo tempo Palavra e Dom (“bene-dictio”, eu-logía”). Aplicado ao homem, este termo significará a adoração e a entrega ao seu Criador, na ação de graças.

Cristo é o grande Liturgo, o que veio para servir (Mt 20,28). Ele exerce o serviço, realiza a salvação. Fomos todos salvos por Cristo, mas, visto que somos seres temporais e existimos em sucessão, a salvação, já realizada por Jesus Cristo, põe-se em nossa vida num processo dinâmico: vamos crescendo na fidelidade ao Senhor, guiados pelo Espírito Santo. Pelo Batismo, fomos configurados ao Cristo, recebemos, por isso, do Pai Celeste o mesmo amor; somos enriquecidos pelo Espírito Santo. Devemos viver dia por dia o nosso Batismo.

“O Espírito Santo é o pedagogo da fé do Povo de Deus, o artífice das obras-primas de Deus”, que são os sacramentos da Nova Aliança. O desejo e a obra do Espírito Santo no coração da Igreja é que vivamos a vida do Cristo ressuscitado. Quando encontra em nós a resposta de fé que Ele mesmo suscitou, realiza-se uma verdadeira cooperação. Através dela, a Liturgia se torna a obra comum do Espírito Santo e da Igreja. O Espírito Santo nos prepara para acolher o Cristo, recorda e atualiza o Mistério do Cristo, nos coloca em comunhão com Cristo para formar o seu corpo.

Na celebração solene do Batismo, logo após o ato propriamente dito do Batismo, fomos ungidos com o óleo do Crisma, para significar o que foi realizado em nós: configurados ao Cristo pela unção do Espírito Santo. Por Cristo fomos reconciliados com o Pai; como Cristo foi enviado pelo Pai, somos nós enviados pelo Senhor. Daí, como Cristo, temos uma tríplice missão a realizar: a profética (evangelização, catequese, mistagogia), asantificadora (sacerdotal, sacrificial) e a régia (pastoral, co-responsabilidade e solidariedade). O mandato da Vida Cristã se edifica sobre este tripé: missão profética, missão sacerdotal e missão pastoral.

1Na missão profética vivemos a vocação do testemunho de Cristo, manifestamos a todos que o Pai nos ama e que enviou o Seu Filho como sinal do Seu amor. Pelo anúncio da Palavra, damos testemunho do Senhor ressuscitado, Vida para todas as pessoas. Pela denúncia do pecado, do egoísmo e da exclusão, anunciamos que Deus é o Pai para todos e que somos todos irmãos. Damos testemunho acima de tudo com a nossa vida, pois o sinal de que somos discípulos do Senhor é o amor fraterno.

2Na missão pastoral, mediante os que foram colocados pelo próprio Senhor como pastores para os seus irmãos, toda a comunidade dos fiéis é orientada e governada como uma família unida, mas também cada um dos cristãos realiza a sua missão de pastor, na co-responsabilidade pelo bem dos seus irmãos.

3Na missão sacerdotaltoda a Igreja, cada um dos cristãos e os sacerdotes ministeriais realizam a ação santificadora. Cristo é o verdadeiro e único sacerdote da Nova e Definitiva Aliança, mas todos os cristãos, mulheres e homens, formam o Povo Sacerdotal que, pelo Cristo, com Cristo e em Cristo, santifica a humanidade.